24 Fevereiro 2021
É crucial para o futuro da Igreja, abalada pelas crises, que a participação dos leigos no próximo Sínodo seja marcada por uma certa efetividade, no respeito à natureza própria da instituição sinodal, Sínodo “dos bispos”.
A opinião é de Agnès Desmazières, teóloga francesa e membro do Centre Sèvres, em Paris. O artigo foi publicado por La Croix, 22-02-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Vaticano II foi a ocasião para uma significativa contribuição dos leigos, homens e mulheres, aos trabalhos conciliares, em particular para pensar o diálogo da Igreja com o mundo. O tema do próximo Sínodo dos Bispos, “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, incita a uma participação renovada dos leigos. O Papa Francisco insistiu nisso em diversas ocasiões recentemente e o reiterou fortemente ao abrir os ministérios do leitorado e do acolitado às mulheres.
Com efeito, uma Igreja sinodal é uma Igreja na qual todos os fiéis, que gozam de uma igual dignidade, caminham juntos, em comunhão uns com os outros. Cada um é convidado, segundo a sua vocação específica, a participar ativa e efetivamente na missão comum da Igreja. Como discípulo-missionário, cada um é chamado a anunciar o Evangelho onde quer que esteja e, assim, a ser corresponsável pelo destino da Igreja em caminho.
Portanto, é crucial para o futuro da Igreja, abalada pelas crises, que a participação dos leigos no próximo Sínodo seja marcada por uma certa efetividade, no respeito à natureza própria da instituição sinodal, Sínodo “dos bispos”.
A recente nomeação de uma religiosa como subsecretária para o Sínodo dos Bispos, com direito a voto, leva a esperar que os leigos, homens e mulheres, possam ter igualmente o direito ao voto no próximo Sínodo. O exercício da corresponsabilidade dos leigos se enraíza na sua dignidade de batizados. Todas as vocações são necessárias para a Igreja, participam no plano de Deus e estão destinadas a florescer em relação – não em uma lógica da concorrência ou da busca por espaços de poder, mas a serviço da Igreja e da humanidade.
A efetividade de tal corresponsabilidade, assinalada pelo acesso dos leigos ao direito ao voto, torna-se particularmente urgente tanto pela atual crise dos abusos sexuais quanto pela situação da pandemia. Foram sobretudo os leigos que denunciaram, de maneira profética, os abusos na Igreja. A sua missão de interpelação no Concílio, tradicional na vida da Igreja, como bem assinalou Yves Congar [1], é mais atual do que nunca.
A situação de pandemia também evidenciou como os leigos são missionários da proximidade junto aos seus irmãos e irmãs na humanidade em sofrimento.
O caminho sinodal, que é a escuta comum do Espírito, pode começar agora mesmo. Sem esperar pelo encontro de Roma em outubro de 2022, é necessário que comece uma reflexão em nível local: como viver mais a sinodalidade nas nossas paróquias e dioceses, nos nossos movimentos [2]?
Experimentar a corresponsabilidade na Igreja também é uma forma de testemunhar a nossa fé aos nossos contemporâneos.
1. Yves Congar. Jalons pour une théologie du laïcat. Paris: Cerf, 1954, p. 337.
2. Joseph Komonchak. Theological Perspectives on the Exercice of Synodality. In: Lorenzo Baldisseri (org.). A cinquant’anni dall’Apostolica Sollicitudo: Il Sinodo dei Vescovi al servizio di una Chiesa sinodale. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2016, p. 355.
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O futuro da Igreja e a participação dos leigos no próximo Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU